Os impactos ambientais dos sacos de plástico e das suas alternativas

No nosso percurso de combate ao lixo (e muitas vezes de combate ao plástico), poderemos considerar usar no nosso dia-a-dia alternativas que nem sempre são tão inócuas ou mesmo assim tão sustentáveis, dependendo de uma série de factores. Para que possamos fazer uma transição e mudança de hábitos verdadeiramente mais ecológicos, torna-se fundamental estarmos bem informados.

Com esta visão em mente, hoje partilhamos algumas conclusões sobre a sustentabilidade das alternativas aos sacos de plástico de uso único, que poderão ser generalizadas para outros objectos.

Relativamente aos sacos, de acordo com um estudo recente realizado pelas Nações Unidas, que compara vários impactos ambientais de diversos sacos, incluindo sacos de plástico e das suas alternativas, através da análise dos seus ciclos de vida, concluiu-se que:

- Os impactos ambientais dos sacos dependem do tipo de material e do seu peso;

- O impacto ambiental de cada saco, independentemente do seu material e peso, depende directamente do número de vezes que é usado;

O processo de produção do saco afecta de forma significativa os seus impactos ambientais: as fontes de energia usadas no seu fabrico bem como a tecnologia usada, por exemplo, são factores importantes;

A gestão dos resíduos no final de vida dos sacos tem também um impacto muito relevante (algo que varia imensamente entre continentes e países a nível mundial) – por exemplo, o papel liberta metano, um gás com um forte efeito de estufa, quando colocado em aterros sem qualquer valorização energética enquanto o plástico é relativamente inerte (a curto prazo) apesar de levar séculos a degradar-se e provavelmente nunca se decompondo inteiramente; a incineração de plásticos liberta dióxido de carbono (e não só!) enquanto a incineração de papel tem um efeito de carbono neutro – uma vez que liberta dióxido de carbono que entretanto havia sido absorvido durante o crescimento da matéria vegetal que o originou; em países com um sistema de gestão de resíduos menos organizado e eficiente, o risco do aumento do lixo marinho e dos microplásticos é bastante superior.


Existem vários factores em jogo: por um lado, é urgente considerar os efeitos adversos do lixo, em particular do lixo plástico, que tantos impactos tem na Natureza, incluindo nos Oceanos, em terra e ainda sob a forma de microplásticos; por outro lado, existem outros impactos ambientais fundamentais, nomeadamente a contribuição para o agravamento das alterações climáticas, acidificação, eutroficação e uso de recursos como a água e terrenos – nestes casos, muitas alternativas ao plástico podem à partida ter efeitos muito preocupantes.

Outras conclusões importantes partilhadas no referido estudo são as seguintes:

- "Os sacos reutilizáveis ​podem ser ambientalmente superiores aos sacos de plástico de uso único, se  forem reutilizados muitas vezes. Por exemplo, um saco de algodão precisa ser usado 50-150 vezes para ter um menor impacto nas alterações climáticas em comparação com um saco de plástico de uso único. Um saco grosso e durável de polipropileno (PP) deve ser usado cerca de 10-20 vezes e um saco de polietileno (PE) mais fino, mas ainda reutilizável, 5-10 vezes, para ter os mesmos impactos climáticos que um saco de plástico de uso único. É portanto necessário assegurar não apenas a durabilidade dos sacos, mas também que os consumidores reutilizem cada saco várias vezes;

- Os sacos de papel possuem menores impactos no que se refere ao lixo, mas na maioria dos casos têm um impacto maior no que diz respeito às alterações climáticas, eutroficação e acidificação, em comparação com sacos de plástico de uso único. No entanto, podem ser melhores para a mitigação das mudanças do clima quando comparados com um saco de plástico de uso único se este for pesado e se as fábricas de papel usarem combustível renovável, os sacos de papel forem reutilizados várias vezes e / ou os sacos de papel forem incinerados em vez de depositados em aterros no seu final de vida;

- Os sacos de polietileno de uso único produzidos a partir de recursos renováveis ​​são melhores para o clima, em comparação com os sacos de plástico de uso único convencionais; no entanto, causam os mesmos problemas relacionados com o lixo e são susceptíveis de causar uma maior acidificação e eutroficação;

- Os sacos biodegradáveis decompõem-se e contribuem menos para os impactos do lixo, em comparação com os sacos de plástico de uso único convencionais; no entanto, os resultados da ACV indicam que podem ser a pior opção no que diz respeito aos impactos climáticos, acidificação, eutroficação e emissões tóxicas." (UNEP, 2020)


Resumindo, uma alternativa verdadeiramente sustentável deve:

 ser primeiramente uma que já tenha em casa ou que possa ser criada reaproveitando materiais que já tenha e que já não usa de outras formas

- envolver a sua reutilização o número máximo de vezes possível (zelando pela sua durabilidade ao longo do tempo)

- ser comprada apenas se necessário!

- ter em conta a sustentabilidade da sua produção, etc.

- ter em conta o impacto que poderá ter no final do seu ciclo de vida (questões importantes a considerar podem ser: Que impactos terá? é reciclável? é reciclada? facilmente? Será que a entidade gestora dos meus resíduos ainda a valoriza de alguma forma? etc.)

Inês Souto Gonçalves 

Fonte: UNEP (2020) Single-use plastic bags and their alternatives - Recommendations from Life Cycle Assessments



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